domingo, julho 30, 2006

Sociedade Felina

Olá

Os gatos são muitas vezes tidos como animais anti-sociais. O que é completamente errado. A sociedade felina é extremamente bem organizada e até o gato-doméstico que sai à rua, ocupa o seu lugar exacto na hierarquia da zona. E todos os membros sabem quais as regras e rituais a que têm que obedecer. Normalmente na hierarquia felina a fêmea mais fértil e com maior número de filhos ocupa o lugar mais importante. O macho mais forte e que vence mais combates não é, por regra, o mais aceite pelas gatas. Estas, civilizadamente, não raro preferem um gato que não seja um campeão de luta.
Porém, como na sociedade dos gatos o que conta é o território, o gato mais lutador é o que tem maior estatuto social, pois também é o possuidor de maior território. A posição inferior na sociedade felina, é ocupada pelos gatos castrados.
Como já disse, para os gatos o que conta é o território. Até mesmo dentro de casa, quando há mais do que um gato, há territórios definidos.
Os estudiosos afirmam que entre os felinos, há o território primário e o território secundário.
Território primário é o lugar que o gato escolhe para dormir, apanhar sol e, no caso das fêmeas, ter os filhos.
O território secundário é partilhado com outros gatos. No caso dos gatos que vivem em liberdade, esse território coincide com o território de caça. Porém, nunca caçam ao mesmo tempo. Aliás os gatos têm caminhos e verdadeiras regras de trânsito seguidas por todos. Se um gato segue por um caminho principal tem prioridade sobre todos os outros que venham por caminhos secundários. Mesmo que de categoria social superior ao que caminha na “rua” principal.
Não se sabe porquê, mas os gatos costumam reunir-se em determinados lugares e ali ficam, pacificamente, durante algum tempo. Chegam a juntar-se 10 e mais gatos.
É uma das coisas que mais falta faz aos gatos que vivem em casa. Por vezes o gato caseiro tem um comportamento agressivo e estranho apenas porque se sente solitário e aborrecido.
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Gato

Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
Meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!

De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
Ainda sem palavras, sem enredos,
Quem somos nós, teus donos ou teus servos?

Alexandre O’Neill – Poesias Completas

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Os gatos preferem sítios altos, porque assim podem olhar de cima para baixo para cães, humanos e outras formas de vida inferiores” – in “10 lições de vida para aprender com o seu gato


Ao olhar do alto do meu confortável parapeito, observo milhares de seres humanos a trabalhar arduamente…Quando aprenderão connosco que a felicidade reside nas coisas simples…como quanto tempo consegues dormir num dia.” – in “Queridos Gatinhos


Adoro não fazer nada! É mesmo o que mais gosto de fazer! É reconfortante ver a minha dona fazer tudo enquanto eu descanso!..


Sou a Cinzenta, matriarca do jardim e silvado adjacente. Estes são dois lugares de descanso no meu território primário.



Uma vez mais aproveito para trocar duas palavrinhas com a Paula J., de Aveiro.
Li o seu e-mail. Tenho pena sinceramente, que os seus gatinhos ainda não tenham aparecido. Continue a tentar! Acho que a oferta de uma recompensa talvez possa ajudar. Não acredito que haja quem reclame a recompensa sem primeiro entregar os gatos! Acredito, isso sim, que possa haver quem, por dinheiro, apareça logo com os gatinhos, ou pelo menos, denuncie o seu paradeiro. Por vezes o difícil é provar que os gatos são nossos. É por isso que estou a pensar muito seriamente, em pôr um chip nos meus gatos. Se bem que não goste muito de os deixar sair. Sabe porquê, se já leu o que tenho escrito. O meu Rapazito esteve às portas da morte e o passeio não foi longo. Não nos podemos também esquecer que, nos dias que correm, o maior “assassino” dos nossos gatos é o automóvel. Não desanime, mas há que encarar todas as hipóteses, mesmo as mais tristes.
Lembre-se dos seus gatinhos e de como ronronavam. Seria só de felicidade? Talvez não. Os gatos ronronam até em situações de lesões, doenças e traumas. Para eles o ronronar é uma terapia. Faça como eles. Porque nós, de certa maneira, também temos uma capacidade enorme de ultrapassar e sarar as nossas feridas. Rindo!
Não sei se gosta de poesia. Eu adoro. Ler e escrever. Há tempos fiz este poemazinho:

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O Riso

Já reparaste, Homem,
Que só tu consegues rir?
Então, ri-te!
Ri-te do Mundo
Ri-te de Ti
Ri-te da Vida.

E sê Feliz!


Março de 2006 – (inédito)
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A Gatafunha e o Gabiru estarão sempre no seu coração. Mas há tanto gatinho que adoraria tê-la por dona!
Escreva sempre que queira. Um abraço.
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Até breve.

domingo, julho 23, 2006

Dormir...dormir...brincar e caçar

Olá
Hoje, ao contrário do que é habitual, começo com uma citação:

O gato tem um sono pesado, mas caminha com leveza” – Fred Schwab.

Há três coisas que os gatos adoram fazer: brincar, caçar e dormir, dormir…
Entre umas boas sestas e umas reconfortantes sonecas os gatos perfazem um total de 16 a 18 horas diárias de sono. Que grandes dorminhocos!
A razão de tanto dormir não se sabe. Mas a verdade é que, para bem dormir, o gato é um verdadeiro mestre em procurar os cantinhos mais confortáveis.
O sono do gato, tal como o nosso, passa por períodos de sono leve e profundo. Durante esta última fase (sono REM – Rapid Eye Movement) os gatos, como os humanos, sonham. É nessa fase que eles frequentemente movem as patitas, agitam as orelhas e os bigodes e chegam mesmo a miar ou rosnar. No entanto o cérebro dos gatos, durante a fase REM, torna-se extraordinariamente activo e ao menor sinal de alarme o sistema nervoso do gato desperta os músculos de imediato.
As brincadeiras são uma necessidade para todos os gatos. Os gatos são mesmo dos mamíferos mais brincalhões. O gatinho pequeno brinca com tudo o que mexe: bolas pequenas, carrinhos de linhas, argolas de garrafas plásticas, bolas de papel, enfim, tudo o que possa empurrar e apanhar. O meu gato Rapazito adora brincar com argolas das garrafas, nozes e bolinhas saltitonas. Um dia, culpa minha, ficou um carrinho de linhas à mão de semear (ou melhor, à pata de semear…) e quando cheguei a casa, o carrinho estava vazio e as linhas “semeadas” desde o primeiro andar até ao rés-do-chão.
Mas também os gatos adultos gostam de brincar. Não é raro vermos gatos já velhinhos a brincar quase como quando eram bebés.
Ver um gato brincar é um verdadeiro espectáculo de alegria, força e elegância.
E é a brincar que o gato vai treinando e aperfeiçoando as técnicas da caça. Porque todos os gatos adoram caçar. É instintivo. E mesmo o gato doméstico adora fazê-lo. Quase só pelo prazer da caça, não para matar a fome como os gatos selvagens. E, à falta de melhor, o gato doméstico lá se vai entretendo a caçar umas moscas, um peixinho do aquário, a “namorar” o canário da gaiola…
É normal, também, o gato doméstico caçar e, para mostrar o seu amor a alguém da família, levar-lhe de presente a sua presa. O meu Giló tinha por hábito caçar murganhos (pequenos ratinhos do campo) e morcegos e levá-los para casa para mos oferecer. Por vezes ainda vivos, o que era um problema.
Quando brinco com o meu gato, sabe-se lá se não sou um passatempo para ele, mais do que ele para mim?” – Michel de Montaigne.

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No meu jardim tenho uma figueira e por baixo dela um canteiro com hortênsias e bergénias. Um recanto de frescura muito apetecido pelos pássaros. Há dias, da janela do meu quarto, avistei um melro novito que por ali saltitava num à vontade que me pareceu exagerado. Não me enganei. Quando daí a pouco desci e fui ao jardim, ainda me deu tempo para apreciar e até fotografar, o final do “banquete” da Cinzenta e de, pelo menos, dois dos filhotes. Caçada bem sucedida!
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O Giló preparando o ataque.
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Que divertido subir às árvores! Por vezes o difícil é descer…
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Brincar e...
dormir… dormir…

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Não posso terminar sem fazer referência a um e-mail que recebemos no passado dia 18 da Paula J. de Aveiro, que transcrevo em parte:
“…ando a fazer tudo para reaver os meus gatos…
Gatos desaparecidos em AVEIRO
O Gabiru, um gato branco, arraçado de Main Coon, de olhos azuis, felpudo, quase surdo, castrado, com mais de dois anos, desapareceu no último domingo de Maio. A Gatafunha, uma gatinha cinzenta, arraçada de Rusian Blue, de olhos verdes, com uma mancha creme na face, com mais de 1 ano, perdeu-se no final de Março.
Moravam na zona do Fórum, em Aveiro, mas podem ter sido levados para qualquer lado, pois eram muito mansos. Já desapareceram há tanto tempo…talvez…alguém tomou conta deles, pensando que estariam abandonados. Por favor, se os encontrarem ou se souberem quem os recolheu, telefonem para: 960020622 / 234420547
Fotos:
http://photos1.blogger.com/blogger/4059/2032/1600/foto5389.jpg
http://www.encontra-me.org/uploads/1735-1-g.jpg
Obrigada pela atenção prestada!”

Espero sinceramente que, se ainda não recebeu notícias dos seus bichanos, que as venha a receber em breve. Não é para lhe dar falsas esperanças, mas lembro-me de, há muitos anos já, um lindíssimo e enorme gato vermelho malhado, que havia em casa dos meus pais, ter fugido com um susto que apanhou com o motor de uma “vespa”. Andou desaparecido durante cerca de quatro a cinco meses. Na altura estávamos na casa da praia. Os meus pais fizeram até saber que gratificariam quem lhes encontrasse o gato. Pois, passado todo aquele tempo, ele voltou para casa, na Praia do Pedrógão. Apanharam-no, acho que com certa dificuldade, pois ele tinha tanto de mau como de bonito, e foram levá-lo a Leiria, a nossa casa (e receber a gratificação). Muito assustado, muito magro, mas vivo. Na altura teria, talvez, uns 8 anos e morreu com 20.
Boa sorte, Paula.

Até breve.

domingo, julho 16, 2006

A linguagem dos gatos

Talvez, para alguns, a linguagem dos gatos seja algo enigmática. Mas, se repararmos bem, não é difícil de compreender. Basta estarmos atentos, não só à vocalização, mas também à postura do corpo e focinho do gato, para o percebermos. E a ideia de que os gatos são falsos e imprevisíveis é um enorme mal-entendido. Os gatos, normalmente, não atacam sem aviso prévio. Todos sabemos que o bufar de um gato indica ameaça. Bem como o arquear do dorso, acompanhado do eriçar do pêlo e cauda, orelhas deitadas para trás e pupilas dilatadas.
Mas a sua postura corporal também indica que o gato está satisfeito. Assim, quando o gato acorda, normalmente curva o dorso e, em seguida, espreguiça-se esticando-se com suavidade. É um sinal de prazer e, quem sabe, um exercício tonificante.
Quando o gato se nos dirige com a cauda levantada, a ronronar e a roçar-se nas nossas pernas, é sinal que está feliz e que só deseja umas festinhas. Se ele nos olha, soltando pequenas miadelas é porque deseja a sua refeição ou, pelo menos, um petisco.
Se, com a cauda levantada, se roçar a miar, é porque deseja que o sigamos. Quantas vezes para que lhe limpemos a sua “sanita”, ou para lhe abrirmos uma porta.
Na opinião dos estudiosos o vocabulário do gato possui 16 sons que podem ser reconhecidos pelo homem, divididos em 3 categorias:
o murmúrio – ronronar e miados suaves
a chamada de atenção – miados sonoros (que podem indicar aviso, convite para brincar, cumprimento ou desapontamento)
sopros e rosnados – estes sons, normalmente, são dirigidos a outros animais, mas podem também ser dirigidos ao homem.
Entre eles, os gatos, além de utilizarem a vocalização e a linguagem corporal, utilizam também o toque (esfregando os focinhos e lavando-se uns aos outros) e o odor. Identificam-se cheirando-se na cabeça e debaixo da cauda, onde se encontram as glândulas odoríferas.
Se, por acaso, te encontrares na rua, numa noite fria, escura, assustadora, não sofras em silêncio. Mia, geme, alto e persistentemente – o teu humano levantar-se-á alegremente da cama para te ir buscar e te preparar um leite quentinho com bolachas.” – in “Queridos Gatinhos” – Stuart e Linda Macfarlane
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A Pantufa

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A Faneca

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Também em casa da minha filha se respira um clima de amor pelos animais. Neste momento são SÓ: 2 caturras, alguns mandarins, um peixe, 2 cães e duas adoráveis gatinhas.
A mais velha, a Pantufa, tem cerca de 3 anos. Um dia o meu neto Guilherme viu-a na loja de animais. Ficou fascinado com ela. E de tal maneira que os pais acabaram por voltar à loja para a comprar. É lindíssima. E o pormenor da cauda faz-me lembrar um Bobtail Japonês. Esta raça de gatos tem uma cauda apenas de 10 a 12 cm de comprimento, mas aparentando ser mais pequena, pois a sua posição normal é enrolada. Anda lá algum “genezito”, por certo. Misturado com algum gene siamês…O resultado saiu bastante engraçado. É uma gata muito senhora do seu nariz e que adora deitar-se nas costas do cadeirão da sala.
A outra é a Faneca, uma adorável gatinha preta. Um poço de ternura, que adora passar as noites a dormir deitada em cima da minha filha.
Uma manhã bem cedo, a Inês, minha filha, começou a ouvir os cães a ladrar. Levantou-se e pareceu-lhe ouvir também um lamentoso miar, vindo do terraço. Foi ver. E qual não foi o seu espanto ao deparar-se com um novelinho preto, cheio de frio, num cantinho longe dos cães. O engraçado é que junto da gatinha estava um montinho de ração. Por certo, alguém a lá foi pôr, e em boa hora. Como é natural, os meus netos ficaram em grande excitação e logo correram a pedir autorização ao pai (da mãe tiveram-na de imediato) para ficarem com a gatinha. Autorização concedida e logo me foi dada a notícia pelo telefone. Escusado será dizer que, assim que me foi possível, lá estava eu para que me apresentassem o novo membro da família.
Os meus netos, a Mafalda e o Guilherme, são dois entusiastas por gatos. Sobretudo o Guilherme. E os gatos, todos eles, adoram-no. Quando vem a minha casa o reboliço que ele e o Rapazito fazem é, por vezes, de nos cansar, mais a nós que a eles próprios.

“…Arthur, um enorme gato castrado, não sofria de outro mal excepto uma tendência dos seus dentes para criarem tártaro.
…Arthur era a negação viva de todas as teorias segundo as quais todos os gatos são de natureza fria e egoísta. Os seus belos olhos, enquadrados no maior focinho de gato que eu já vi, olhavam o mundo com uma benevolência que tudo envolvia. Todos os seus movimentos eram dignos. Quando comecei a raspar-lhe os dentes, emitiu um ronronar profundo, como o som distante de um motor de popa. Acidentalmente, atingi-lhe a gengiva. Ele ergueu calmamente a pata robusta, como que a dizer: - Eh pá, tem cuidado! – mas manteve as garras encolhidas
.” – in “Como Deus os Criou” – James Herriot.
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Não resisto à tentação de vos mostrar a hora da refeição da Cinzenta e dos filhotes.
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segunda-feira, julho 10, 2006

Os sentidos do gato

Olá

E como este é o meu post 6, que tal falar dos 6 sentidos dos gatos?
Visão
Os olhos dos gatos são muito mais perfeitos do que os do homem. Ouve-se frequentemente, dizer que os gatos vêem na escuridão, o que não é verdade.
De facto o que acontece é que os olhos dos gatos conseguem captar a mais pequena réstia de luz que haja. Essa luz é depois reflectida por um “espelho” que existe por trás da retina: é o “tapetum lucidum” e é composto por 15 camadas reflectoras. No gato doméstico, o brilho nocturno dos olhos é verde, excepto nos gatos de olhos azuis. Nestes o brilho é vermelho. Isto acontece porque os gatos de olhos azuis são parcialmente albinos não possuindo determinados pigmentos. São, portanto, os vasos sanguíneos que brilham à transparência.
Audição
A capacidade auditiva do gato é bastante elevada, como já tive ocasião de referir, quando falei das câmaras de ressonância auditiva, existentes no crânio deste animal. Além disso as orelhas normalmente grandes e direitas, conseguem distinguir um som numa fracção de segundo.
Olfacto
Este sentido no gato, não sendo tão apurado como no cão, é porém muito superior ao do homem. Além disso os gatos possuem um segundo órgão olfactivo localizado a frente do céu-da-boca. É o órgão de Jacobson. Para o activarem os gatos entreabrem a boca e franzem o nariz. É o chamado reflexo de Flehmen. Há certos cheiros que agradam especialmente aos gatos, como, por exemplo, a hortelã e a valeriana. Acontece, por vezes, um gato evitar determinada pessoa, apenas porque não gosta do cheiro dela.
O paladar
Os gatos têm um paladar muito apurado e são, por vezes, bastante esquisitos com a comida que se lhes dá.
Na face superior da língua do gato existem pequenos ganchos córneos que a tornam muito áspera. São esses pequenos ganchos que permitem ao gato fazer a limpeza do corpo.
O tacto
Para além dos pêlos do bigode, o gato possui outros tufos de pêlos tácteis sobre os olhos, nas faces, no queixo e na parte de trás das patas dianteiras. Estes pêlos nunca devem ser cortados ou arrancados pois o gato ficará inseguro e em grande sofrimento psíquico.
O sexto sentido
Os gatos são altamente sensíveis às vibrações. É esta hipersensibilidade à vibração que lhes permite aperceberem-se de situações de perigo e lhes dá a fama de possuírem capacidades telepáticas.
Por detrás do belo focinho e do olhar penetrante do gato há sempre algo de perturbante e insondável – um âmago exótico e secreto, eco de uma ligação ancestral a cultos sagrados e à necromancia. Os gatos são magia pura.” – in “Grande Livro do Gato” – David Taylor
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Antes de me despedir, só duas palavrinhas.
Uma, para agradecer a quantos me têm visitado, a mim e aos meus gatos. Bem hajam.
Outra, para vos lançar um desafio: e porque não os vossos comentários contando também as histórias dos vossos animais? E que tal umas fotografias?
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Até para a semana.
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Rita

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Bombom
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A Cinzenta e a filhota Bombom
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Jacob
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Risquinhos
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Já tive ocasião de falar da Cinzenta e dos seus filhotes. São quatro. Lindos a valer – a Rita, a Bombom, o Jacob e o Risquinhos. Já dão pelo nome, mas é ainda muito difícil estarem todos ao pé de mim. Logo que a mãe dá por isso, chama-os com uma rosnadela e é vê-los obedecer e a desaparecerem em correria.
É uma gata bastante misteriosa. Ainda não consegui compreender a sua maneira de ser. Não foge de mim, mas também não se aproxima (será que é o meu cheiro que não lhe agrada?). E para além de não deixar os filhotes aproximarem-se também desaparece com eles todas as semanas, durante um ou dois dias. Mas o mais grave é que, sempre que voltam, a gata traz um novo gato com ela. Gato adulto, claro. Primeiro foi um malhado de preto e branco. Depois um siamês. Agora são dois gatarrões de uma linda cor
creme, ligeiramente listados. Iguaizinhos um ao outro e muito parecidos com o pequeno Risquinhos.
São todos gatos lindos e bem tratados. Mas enquanto ela vai dando as suas voltas (para visitas sociais ou novas conquistas?) os gatos por cá vão ficando. A juntar ao Preto, que voltou a aparecer, e ao Lingrinhas, que por vontade dele se mudava de vez cá para casa, somam já onze gatos a passearem-se pelo jardim. Começa a ser demasiado para um humano só…
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“Acerca de gatos

Em Abril chegam os gatos: à frente
o mais antigo, eu tinha
dez anos ou nem isso,
um pequeno tigre que nunca se habituou
às areias do caixote, mas foi quem
primeiro me tomou o coração de assalto.
Veio depois, já em Coimbra, uma gata
que não parava em casa: fornicava
e paria no pinhal, não lhe tive
afeição que durasse, nem ela a merecia,
de tão puta. Só muitos anos
depois entrou em casa, para ser
senhor dela, o pequeno persa
azul. A beleza vira-nos a alma
do avesso e vai-se embora.
Por isso, quem me lambe a ferida
aberta que me deixou a sua morte
é agora uma gatita rafeira e negra
com três ou quatro borradelas de cal
na barriga. É ao sol dos seus olhos
que talvez aqueça as mãos, e partilhe
a leitura do Público ao domingo”.

Eugénio de Andrade

domingo, julho 02, 2006

Anatomia do gato

Os gatos são mamíferos possuindo as características anatómicas comuns à grande maioria destes: o corpo coberto de pêlos e alimentando-se de leite materno quando pequenos. São, porém, dos mamíferos mais evoluídos que se conhecem. A conformação do corpo dos gatos é extremamente flexível e elástica. A sua coluna vertebral é unida por músculos e não por ligamentos, como na maior parte dos mamíferos. É formada por 7 vértebras cervicais, 13 vértebras dorsais, 7 vértebras lombares, o sacro e 18 a 26 vértebras coccígeas. É esta longa coluna vertebral, cheia de elasticidade, que permite ao gato saltar com tanta segurança e agilidade.
O gato não tem clavículas, mas sim uma pequena cartilagem clavicular. É este facto que lhe dá a capacidade de estender a sua passada e de penetrar por aberturas estreitas.
O gato adulto possui 30 dentes: 16 no maxilar superior e 14 no inferior. Os caninos ou presas (que são 2 em cada maxilar), em forma de punhais, servem para matar; com os molares, afiados como facas, rasgam as presas e desfazem-nas em pedaços.
O crânio dos gatos é também notável. Entre as suas estruturas ósseas bem desenvolvidas encontram-se grandes câmaras de ressonância auditiva que proporcionam ao gato um ouvido extremamente apurado. O gato reage a ultra-sons da ordem das 60 000 vibrações por segundo (nós, humanos, só somos capazes de captar sons de cerca de 20 000 vibrações p.s.). Mas é no seu ouvido interno que reside o seu sentido de equilíbrio que permite ao gato regular a queda.
O gato tem 5 dedos nas patas dianteiras. As patas traseiras, mais compridas que as dianteiras, têm só 4 dedos. Devido à disposição dos nervos e tendões, o gato pode estender ou encolher as garras à sua vontade. Em repouso, o gato encolhe as garras, que não tocam o chão, o que lhe dá aquele andar tão suave e silencioso.
Uma dessas noites a insónia levou-me à rua. Caminhava a sossegar o sono quando vi o gato. Andava com pés sábios, sem nunca ofender o chão. De passo fofo, o gato pisava a meia-noite.” – Mia Couto, in “Cronicando”.
Até breve.
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O Rapazito


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Como já vos contei, o nosso Rapazito, com a preciosa ajuda da Lili, recuperou rapidamente e fez-se um bonito gato.

Sei que os gatos adoram andar nos jardins. Porém não é meu hábito deixá-los sair. Só o faço quando posso estar a tomar conta. Temo sempre que se afastem e que lhes possa acontecer algo.
E foi isso mesmo que acabou por suceder.
Nunca mais esquecerei a data: dia 15 de Abril de 2oo6, sábado de aleluia. Estava uma manhã linda e achei por bem deixar o Rapazito e a Lili darem uma voltinha no jardim. Ela logo quis voltar para casa. Mas ele, mais atrevido, resolveu-se por uma escapadela até ao jardim de uns vizinhos, para uma habitual sessão de mimos. São pessoas que gostam e respeitam os animais e o Rapazito é sempre “recebido” com agrado. Mas o inesperado aconteceu. E o Rapazito desapareceu a nossa vista. Procurámos, chamei e voltei a chamar, e do meu gato, nada. A certa altura pareceu-me ouvir a voz dele, mas muito abafada. Continuei a procurar e a chamar. A voz pareceu-me mais perto e foi então que o vi num terreno bravio, perto de minha casa. Tinha um ar assustadíssimo. Continuei a chamar e a incentivá-lo para que viesse para casa. Subi, até, a um muro para que ele me visse e ouvisse melhor. Muito a medo, foi avançando. Quando chegou perto de mim, fiquei desesperada com o seu aspecto. Junto de uma coxa tinha um hematoma enorme, nitidamente provocado por um pontapé. E junto ao ânus estava cheio de sangue: tinha 3 espetadelas, provavelmente de forquilha. Esteve bastante mal, o meu Rapazito. Quase deixou de comer, caiu-lhe parte do pêlo, tudo o assustava. Mais uma vez o carinho e cuidados da Lili me ajudaram a recuperar o Rapazito. Felizmente já está bom, se bem que ainda um bocado assustadiço! Só lamento não saber quem cometeu tamanha crueldade, crime, direi mesmo.
Uma coisa é certa. Agora o Rapazito não vai ao jardim. Fica-se pela varanda, que é bastante espaçosa, e onde ele tem vários vasos com as suas ervas preferidas. Ali, sei eu, ninguém lhe fará mal.
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Menina Lili – A Rainha do Sabá