sexta-feira, dezembro 22, 2006

FELIZ NATAL

Olá meus amigos
Nem imaginam o que me aconteceu!
Estava eu ontem, ao quentinho da lareira, com a Lili e o Rapazito, a pensar em vós todos e em como seria bonito poder desejar-vos um Feliz Natal, quando senti um arranhar na porta. Fui espreitar.

-Inspiração!!!
-Olá Avó! Posso entrar? Tenho-me lembrado imenso de ti, de todos os amigos felinos e de todos os nossos amigos humanos.
-Também eu, meu amigo! E que saudades!
-Só venho desejar um Feliz Natal. E pedir-te que entregues a todos os nossos amigos este presentinho: o maior beijo e o maior abraço do Mundo!
-Com certeza, meu querido Inspiração. Mas para o nosso cartão de Boas Festas ficar mais completo ajudas-me a encontrar uma história de Natal para contar aos nossos amigos?
-Apanhaste-me de surpresa, Avó! Bem… Há tanta coisa bonita acerca do Natal. Excluindo o tema GATOS, acho que é mesmo o assunto mais apreciado por todos os escritores. Estou a lembrar-me, por exemplo, da grande escritora Pearl Buck. Que contos lindos, de Natal, ela escreveu: “O Fantasma da Noite de Natal”, “A Noite Maravilhosa” e tantos outros. Ou de António Torrado e aquela história tão engraçada do peru de Natal que andou dentro de um cesto, em bolandas por quase todas as casas importantes da sua cidade, a pensar que estava chegado o seu fim…
Achei! José Mauro de Vasconcelos e uma enternecedora passagem de “O meu pé de laranja lima”. Espero que gostem da minha escolha. BOAS FESTAS.
“Entrei de furacão, com medo que ele já fosse fechar.
- O senhor tem ainda daquele cigarro caro?
Ele apanhou duas carteiras quando viu o dinheiro na palma da minha mão.
- Isto não é para você, é, Zezé?
Uma voz por trás falou:
- Que ideia! Um pequeno desse tamanho!
Sem se virar ele contestou.
- Porque você não conhece esse freguês. Esse danado é capaz de tudo.
- É para Papai.
Sentia uma felicidade enorme rolando as carteiras na palma da mão.
- Essa ou essa?
- Você é quem sabe.
- Passei o dia trabalhando pra comprar este presente de Natal para Papai.
- Verdade, Zezé? E o que ele te deu?
- Nada, coitado. Ele está ainda desempregado, o senhor sabe.
Ele ficou emocionado e ninguém falou no bar.
- Qual o senhor gostava mais se fosse o senhor?
- As duas são lindas. E qualquer pai gostaria de receber um presente desse jeito.
- O senhor me embrulha essa, por favor.
Ele embrulhou mas estava meio esquisito quando me deu o pacotinho. Parecia querer dizer uma coisa e não conseguia.
Dei o dinheiro e sorri.
- Obrigado, Zezé.
- Boas-festas para o senhor!...
Corri de novo até casa.
A noite tinha chegado também. Havia a luz acesa do lampião apenas na cozinha. Todos tinham saído, mas papai estava sentado na mesa olhando o vazio da parede. Apoiava o rosto na palma da mão e o cotovelo na mesa.
- Papai.
- O que é, meu filho?
Não havia rancor nenhum em sua voz.
- Onde você andou o dia todo?
Mostrei a caixa de engraxar.
Coloquei a caixa no chão e meti a mão no bolso tirando o pacotinho.
- Veja, Papai, comprei uma coisa linda para o senhor.
Ele sorriu compreendendo o quanto custara aquilo.
- O senhor gosta?
Ele abriu a carteira e cheirou o fumo, sorrindo, mas não conseguia dizer nada.
- Fume um , Papai.
Fui até ao fogão apanhar um fósforo. Risquei um e aproximei do cigarro em sua boca.
Me afastei para assistir a sua primeira tragada. E foi-me dando uma coisa. Joguei o fósforo apagado no chão. E senti que estava estourando. Rebentando todo por dentro. Rebentando aquela dor tão grande que passara o dia ameaçando.
Olhei Papai. O seu rosto barbado, os seus olhos.
Só pude falar.
- Papai… Papai…
E a voz foi sendo consumida pelas lágrimas e soluços.
Ele abriu os braços e estreitou-me ternamente.”

FELIZ NATAL